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O desafio da cefalometria

 

A cefalometria é vista como um dos principais gargalos na formação ortodôntica e muitas vezes um grande desafio para o clínico ou mesmo para o ortodontista em início de carreira. Muitos profissionais encontram dificuldades em assimilar o conteúdo, mas, com o tempo, aprendem a identificar os parâmetros mais relevantes para suas rotinas clínicas.

O aprendizado da cefalometria geralmente segue três etapas:

  1. Desconhecimento Total: Primeiro contato com um conteúdo desconhecido.
  2. Confusão Completa: A quantidade de informações parece excessiva e desorganizada.
  3. Compreensão e Domínio: Com prática, as informações se tornam claras e aplicáveis.

O desafio da cefalometria

A cefalometria envolve diferentes análises criadas por autores como Steiner, Tweed, Downs, Ricketts, e McNamara. A análise USP, por exemplo, combina medidas de diferentes autores para facilitar diagnósticos esqueléticos. Embora muitas clínicas ofereçam softwares para automatizar análises, a revisão manual de pontos e medidas é fundamental para evitar erros.

Para diagnósticos precisos, recomenda-se usar um mix de análises que utilizem diferentes planos de referência, como o plano horizontal de Frankfurt e a linha SN. Além disso, ao trabalhar com pacientes em crescimento, é importante ajustar parâmetros normativos considerando a idade e o desenvolvimento ósseo.

A prática clínica não exige o domínio de todas as análises cefalométricas. De maneira geral, a interpretação de uma análise cefalométrica na íntegra (Steiner, McNamara, Rickets, Bimler…) trazem contribuições valiosas para a prática clínica, porém, para o clínico, o objetivo é simplificar o aprendizado focando naquilo que é aplicável no dia a dia.

Confira nosso blog sobre os principais parâmetros cefalométricos para definir o padrão esquelético.

Etapas para diagnóstico cefalométrico

Para que possamos simplificar o aprendizado da cefalometria, é importante que se consiga organizar o raciocínio, ou melhor, definir etapas para compreensão do conteúdo. 

  • PASSO 1 : Verificar de Ampliação Radiográfica

Algumas imagens podem ser ampliadas ou reduzidas na impressão e por isso é fundamental conferir a escala, utilizando a “régua” (imagem 01) presente na imagem, a fim de garantir medidas precisas no caso de conferência. 

As telerradiografias digitais normalmente são impressas na escala 1:1 (sem ampliação ou redução) mas essa ainda não é a realidade de todas as clínicas radiológicas. Muitos ainda utilizam equipamentos com ampliação entre 5 e 8%. Essa taxa de ampliação não interfere ao compararmos medidas angulares mas pode sofrer alteração ao compararmos medidas lineares. Esse ponto é importante principalmente ao avaliarmos dois cefalogramas do mesmo paciente pois diferentes taxas de ampliação das imagens podem levar a conclusões de crescimento equivocadas. 

ampliação radiográfica. cefalometria
Imagem 01: Na esquerda é possível observar uma telerradiografia convencional com ampliação radiográfica e na imagem da direita é possível observar uma telerradiografia digital com a régua para referência da escala.
  • PASSO 2: Conferir Pontos e Linhas Essenciais

Antes de interpretar qualquer medida, é necessário conferir os principais pontos cefalométricos. Mesmo com a Inteligência Artificial sendo utilizada por alguns softwares para obtenção de pontos e linhas, a literatura indica que ainda há divergência na marcação de pontos realizados por softwares(1), apesar da tecnologia ter evoluído muito nos dois últimos anos tornando a ferramenta ainda mais precisa. Contudo, ainda é importante que o profissional revise a marcação dos pontos principais, já que um erro na marcação de um ponto como o Pório ou o Orbitário pode levar a obtenção de parâmetros cefalométricos completamente equivocados, desqualificando toda análise cefalométrica realizada.

Vou listar aqui alguns Pontos Principais (considerando análise resumida) para que o clínico saiba por “onde começar”: Ponto S, Ponto N, Ponto Po, Longo eixo do II, Longo eixo IS, Ponto A, Ponto B.

Aproveito também para deixar algumas sugestões de livros que podem ajudar no estudo de identificação desses pontos:

No Curso online sobre Cefalometria na Prática Clínica também trazemos uma revisão de Pontos e Linhas Principais para auxiliar o clínico na interpretação dos parÂmetros cefalométricos.

 O diagnóstico cefalométrico envolve definir padrão esquelético, padrão dentário e direção de crescimento, além de também permitir a avaliação dos tecidos moles e vias aéreas.

  • Padrão esquelético

Determinar o padrão esquelético é definir a relação da maxila e da mandíbula em relação com a base do crânio, assim como e relação entre as bases ósseas (maxilo-mandibular). Dessa forma, parâmetros cefalométricos que definem o tamanho e posição da maxila, tamanho e posição da mandíbula, relação maxilo-mandibular e dimensão vertical da face definem o padrão esquelético do paciente.

Os parâmetros são diferentes de acordo com o que foi definido por cada autor. Por exemplo, a posição da mandíbula para Steiner é determinada através do ângulo SNB, enquanto que para McNamara a posição da mandíbula é determinada pela medida Nper-Pog. Por isso, muitas vezes é preciso lançar mão de diferentes análises cefalométricas para definirmos o padrão com clareza.

Para saber um pouco mais sobre  o assunto confira também nosso blog sobre os principais parâmetros cefalométricos para definir o padrão esquelético.

  • Padrão dentário

O padrão dentário é determinado pela posição dos dentes. Na grande maioria das análises cefalométricas esse padrão é determinado pela inclinação e posição de incisivos superiores e inferiores. Poucas análises cefalométricas consideram os molares ou pré-molares como referências dentárias. Talvez esse seja o padrão mais fácil de ser identificado e o primeiro a ser dominado pelo profissional.

Apesar de ser baseado em poucos parâmetros, o padrão dentário é fundamental para o diagnóstico das maloclusões esqueléticas, já que inclinações dentárias alteradas refletem compensação dentária ou desequilíbrio do sistema estomatognático.

No nossos curso online sobre Cefalometria na prática clinica explicamos cada um desses parâmetros cefalométricos de forma simples e objetiva para quem ainda se sente inseguro no diagnóstico cefalométrico.

  • Direção de crescimento

Determinar a direção de crescimento, apesar de parecer simples, pode levar a muitas falhas de diagnóstico. Parâmetros angulares como FMA, SNGoGn ou Eixo Y são amplamente utilizados pelos clínicos. Portanto, o cuidado que precisamos ter ao determinar a direção de crescimento é não se basear em um parâmetro único e sim em parâmetros que levem em considerações diferentes planos ou linhas de referência. Por exemplo, SNGoGn é um parâmetro utilizado pela Análise de Steiner e também utilizado na Análise USP. Esse parâmetro tem como referência a linha S-N e e linha Go-Gn. O problema na interpretação desse parâmetro é que muitas vezes, por um padrão genético, o indivíduo apresenta uma inclinação acentuada da linha S-N em virtude da inclinação da base do crânio, levando a um erro de diagnóstico pois o ângulo vai expressar uma medida maior do que ela realmente é. Em virtude dessa variação é importante utilizarmos também o FMA (Frankfourt Mandibular Plane Angle) como medida complementar pois esse parâmetro utiliza como referência o Plano Horizontal de Frankfourt e não a linha S-N. Ficou muito confuso? Um pouco neh??! Mas o que eu quero trazer aqui para vocês é que apesar da análise cefalométrica parecer  complexa em um primeiro momento ela pode ser simples e objetiva ao analisarmos os parâmetros corretos e entender o que cada um deles pode identificar.

Entender o que precisamos buscar ao interpretar uma análise cefalométrica é o primeiro passo para simplificar o processo na busca do conhecimento!

Bons estudos!

Juliana Pereira Andriani

Juliana Pereira Andriani

Especialista em Ortodontia e Ortopedia dos Maxilares – UFSC
Mestre em Ortodontia – UFSC
Doutoranda em Odontologia – UFSC
Ortodontista clínica – Integre Odontologia – Florianopólis
Profa. Ortodontia e Ortopedia – ABCD/Florianopólis
Profa. Ortodontia e Ortopedia Academia da Odontologia
Founder Academia da Odontologia
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