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Mordida aberta anterior e hábitos bucais deletérios

A mordida aberta anterior é o tipo de maloclusão mais comum na dentição decídua, com prevalência em cerca de 35%1, enquanto na dentição mista sua prevalência cai para 18%2. Entre as crianças que apresentam hábitos bucais deletérios persistentes, a prevalência da mordida aberta anterior na dentição decídua pode chegar a 50% entre crianças brasileiras. Esses dados revelam a forte associação entre a presença de hábitos bucais deletérios e a mordida aberta anterior. Além do mais, o fato da prevalência apresentar redução da dentição decídua para a dentição mista pode sugerir a autocorreção da mesma até a troca da dentição decídua para a mista.

No post de hoje iremos falar sobre:

Etiologia da mordida aberta anterior

Hábitos bucais deletérios que contribuem para mordida aberta anterior

Possíveis consequências dos hábitos de sucção deletérios

Etiologia da mordida aberta anterior

A mordida aberta anterior apresenta etiologia multifatorial, podendo ser causada por:

  • Fator extrínseco (ambiental) – Como hábito bucal deletério que atua no desequilíbrio das funções neuromusculares.

    • Nessas situações a resposta ao desequilíbrio neuromuscular é dentoalveolar, ou seja, as alterações na oclusão serão primariamente dentárias, implicando em melhor prognóstico de tratamento.

Esse é o fator etiológico mais comumente associado à mordida aberta anterior na dentição decídua e mista. A partir daí, já podemos entender a importância do cirurgião dentista na orientação em relação ao uso principalmente de chupetas.

  • Fator intrínseco (genético) – Associado ao padrão facial do paciente (determinado geneticamente).

    • Nessas situações o padrão facial hiperdivergente contribui para o crescimento vertical da face e deslocamento da língua para anterior, implicando em prognóstico duvidoso para o tratamento ortodôntico. É comum esses casos evoluírem para tratamento orto-cirúrgico.

  • Associação de fatores – Pela combinação de fatores extrínsecos e intrínsecos.

    • Nessas situações o prognóstico vai depender do contribuição de cada um desses fatores (intrínseco ou extrínseco) na etiologia da maloclusão.

Hábitos bucais deletérios que contribuem para mordida aberta anterior

Um hábito pode ser definido como uma série de atividades que o ser humano pratica, consciente, semi-consciente ou inconscientemente, durante um determinado período da vida.

De acordo com Klein, o hábito pode ainda ser classificado em:

  • Hábito significativo – Onde o caráter emocional está diretamente relacionado. Nestas situações normalmente é preciso auxílio do psicólogo trabalhar a identificação e remoção do hábito, pois o tratamento e remoção do hábito deve passar pela causa.

  • Hábito vazio – É aquele em que o caráter emocional não apresenta forte associação com o hábito. São situações clínicas em que o próprio cirurgião dentista consegue orientar a remoção do hábito bucal. Muitas vezes com poucas orientações aos pais/crianças.

Hábitos bucais deletérios que normalmente contribuem para instalação da maloclusão são:

  • Hábitos de sucção não nutritivos (chupeta e dedo);

  • Hábitos Funcionais (Respiração bucal, deglutição atípica e interposição lingual).

Contudo, a deglutição atípica, interposição lingual e respiração bucal normalmente estão relacionadas ao padrão genético do paciente ou se apresentam como fatores associados à maloclusão e nem sempre como fator etiológico principal da mesma, enquanto os hábitos de sução não nutritivos se apresentam como fator etiológico mais frequente.

Os efeitos indesejáveis do hábito de sucção não-nutritivo na cavidade bucal irão depender principalmente dos seguintes fatores: intensidade, duração e frequência do hábito (tríade de Graber), além do padrão de crescimento da face.

Possíveis consequências dos hábitos de sucção deletérios

Os hábitos de sucção não nutritivos (chupeta/dedo) apresentam forte associação com a maloclusão, principalmente com a mordida aberta anterior e mordida cruzada posterior. Sendo que a consequência do hábito de sucção por tempo prolongado irá variar também de acordo com o tipo de hábito (chupeta ou dedo).

De maneira geral, hábitos associados à sucção prolongada de chupeta contribuem para maior prevalência de mordida cruzada posterior e mordida aberta anterior mais circular e uniforme, enquanto hábitos associados à sucção prolongada do dedo contribuem para mais aumento do overjet, maior projeção dos incisivos superiores e mordida aberta anterior mais localizada.

Mordida aberta anterior associada à sucção prolongada de chupeta.

Mordida aberta anterior associada à sucção prolongada de dedo.

Durante a sucção não nutritiva (dedo ou chupeta), a língua repousa no assoalho da cavidade bucal, aumentando a pressão interna na porção lingual dos dentes inferiores, contribuindo para aumento da amplitude do arco inferior.

Enquanto isso, a contração da bochecha contribui para o estreitamento do arco superior, favorecendo a instalação da mordida cruzada posterior. Apesar da mordida cruzada posterior estar mais fortemente associada ao hábito de sucção de chupeta, este tipo de maloclusão pode estar presente também no hábito de sucção prolongado do dedo, apesar desse tipo de hábito estar mais associado ao aumento do overjet e atresia maxilar.

Para saber mais sobre atresia maxilar transversal clique aqui.

Dentre as possíveis consequências dos hábitos de sucção deletérios, podemos citar:

  • Atresia da maxila

  • Mordida aberta anterior

  • Protrusão de incisivos superiores

  • Retrusão de incisivos inferiores

  • Overjet aumentado

  • Limitação do crescimento alveolar anterior

  • Extrusão do processo alveolar posterior

  • Distorção de fonemas /s/ e /f/

  • Distúrbios de motricidade

  • Má postura de língua

Portanto, diante das consequências dos hábitos bucais deletérios como fator etiológico para a instalação da maloclusão, é função do cirurgião dentista ou odontopediatra orientar os pais/crianças em relação aos possíveis danos na cavidade bucais diante da exposição prolongada de hábito bucais, assim como identificar e orientar a remoção do mesmo.

  1. Silva Filho OG, Freitas SF, Cavassan AO. Prevalência de oclusão normal e má oclusão em escolares da cidade de Bauru (São Paulo): parte I: relação sagital. Ver Odontol Univ São Paulo.1990;4(2):130-7.

  2. Silva Filho OG, Freitas SF, Cavassan AO. Prevalência de oclusão normal e má oclusão em escolares da cidade de Bauru (São Paulo): parte II: influência na estratificação esconômica. Ver Odontol Univ São Paulo.1989;4(3):189-96.

  3. Warren JJ and Bishara SE. Duration os nutritive and nonnutritive sucking behaviors and their effects on the dental arches in the primary dentition. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2002;121(4):347-56.

Abraços.

Por Juliana Pereira Andriani.

Juliana Pereira Andriani

Especialista em Ortodontia e Ortopedia dos Maxilares – UFSC
Mestre em Ortodontia – UFSC
Doutoranda em Odontologia – UFSC
Ortodontista clínica – Integre Odontologia – Florianopólis
Profa. Ortodontia e Ortopedia – ABCD/Florianopólis
Profa. Ortodontia e Ortopedia Academia da Odontologia
Founder Academia da Odontologia
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