A manutenção dos dentes decíduos até o período fisiológico de esfoliação é muito importante, visto que desempenham função fonética, mastigatória e estética. Também contribuem com o desenvolvimento dos arcos maxilares e músculos da face, no processo respiratório da criança e atuam como mantenedores de espaço funcional, já que servem de guia para a irrupção dos sucessores permanentes.
Diante de todas essas vantagens, qual a implicação da perda precoce de um dente decíduo no arco dental? Neste post iremos abordar de forma mais específica a perda precoce de molares decíduos.
Tópicos que iremos tratar:
Perda precoce de molares decíduos
A perda de um molar decíduo é considerada precoce quando ocorre antes do seu período normal de esfoliação, e a principal causa apontada na literatura é ainda a cárie dentária. Diversos estudos mostram que há uma alta prevalência de perda precoce de molares decíduos, principalmente entre primeiros e segundos molares inferiores.
Os efeitos gerados pela perda precoce, no arco dental, dependem de qual foi o dente perdido, da idade do paciente e do espaço disponível na arcada dentária. Quando há atraso na irrupção do sucessor permanente, pode haver a extrusão do dente antagonista ao dente perdido, e também deslocamento dos dentes adjacentes ao espaço resultante da extração.
Isto pode provocar uma diminuição do espaço disponível no arco, tendo como possíveis consequências a ocorrência de apinhamento, impacção de dentes permanentes, discrepâncias na linha média e instalação de má oclusão.
Mantenedores de espaço
Na tentativa de evitar ou amenizar os possíveis problemas causados pela perda precoce de um molar decíduo, são instalados dispositivos mantenedores de espaço, como o banda-alça, arco lingual, arco transpalatino e botão de Nance, cada qual com suas indicações.
O principal objetivo desses aparelhos é preservar o alinhamento da arcada dentária e manter o espaço do dente ainda não irrompido.
Quando falamos sobre perda precoce de molares decíduos inferiores, os aparelhos mais utilizados são o arco lingual, na situação de perdas múltiplas, e o banda-alça em casos de perda unitária. As principais vantagens desses dispositivos são a possibilidade de bandagem tanto em molares permanentes como decíduos, a facilidade para a instalação e remoção, baixo custo e não dependência da colaboração do paciente, pois são fixos.
Por outro lado, quando são instalados, esses aparelhos exigem maiores cuidados tanto do profissional quanto do paciente. Isso porque, pode ocorrer um maior acúmulo de placa, consequentemente o comprometimento da saúde periodontal e o favorecimento do desenvolvimento de cáries.
Além disso, algumas desvantagens são relatadas na literatura, como a possibilidade da perda de cimento causando o deslocamento do aparelho, a incapacidade de controlar rotações e movimentações do dente pilar que foi bandado, quebra do aparelho, custo laboratorial e maior tempo clínico consumido.
Impacto clínico da perda precoce
Problema resolvido, não?
Apesar de serem reconhecidas as possíveis consequências prejudiciais decorrentes da perda precoce de molares decíduos, na literatura ainda há uma diversidade de opiniões relacionada à necessidade ou não do uso de mantenedores de espaço. Por que?
Primeiro vamos falar sobre como ocorre a perda de espaço no arco quando há perda precoce de um molar decíduo inferior.
No geral, o espaço é perdido por conta do movimento mesial do primeiro molar permanente e/ou da distalização do canino decíduo em direção ao espaço resultante da extração. Durante a evolução normal do desenvolvimento da oclusão, ocorre o deslocamento mesial dos primeiros molares permanentes em direção ao espaço disponível gerado pelo Leeway space.
Também, há distalização do canino decíduo devido à troca dos incisivos inferiores decíduos pelos incisivos inferiores permanentes. Os incisivos permanentes, por ocuparem mais espaço no arco, acabam afastando os caninos decíduos no sentido distal. Logo, os movimentos que acarretam na diminuição do espaço do arco podem ser confundidos com movimentos fisiológicos, caso ocorram em um período próximo.
Além disso, revisões sistemáticas, com alto nível de evidência científica, questionam o uso dos mantenedores de espaço em perdas precoces de molares decíduos, visto que a perda de espaço média no arco apresentada pelos estudos pode não impactar negativamente no desenvolvimento normal da oclusão na maioria dos pacientes.
Apesar dessas considerações, já é consensual na literatura que embora o 1º molar decíduo seja o dente decíduo perdido com mais frequência, não há necessidade do uso de um mantenedor de espaço em situações favoráveis. Já em relação ao 2º molar decíduo, os estudos demonstram que há uma perda de espaço maior quando comparado ao 1º molar decíduo, e isso pode significar que seja necessária uma intervenção imediata para a manutenção do espaço.
De maneira geral, antes que seja tomada uma decisão, deve ser realizada uma avaliação individualizada do paciente, levando-se em conta os diversos fatores que podem influenciar na necessidade ou não da instalação de um mantenedor de espaço, como a idade no momento da perda dentária, se há boa intercuspidação entre os primeiros molares permanentes, presença de apinhamentos dentários, variações na musculatura facial do paciente, fatores craniofaciais de crescimento, postura da língua e hábitos funcionais.
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Boa leitura!
Referências: