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As questões da anamnese realmente são relevantes para seu diagnóstico em ortodontia interceptiva?

Você já parou para pensar se as perguntas de sua anamnese são realmente relevantes para o diagnóstico em sua prática clínica em ortodontia interceptiva? Questiono ainda mais, você está questionando seu paciente em relação a todos os aspectos relevantes para o diagnóstico em ortodontia interceptiva? Partindo do ponto de que o diagnóstico da maloclusão deve ser o mesmo para qualquer profissional, independente da conduta terapêutica a ser definida, por que há tanta diferença entre as fichas de anamnese de consultórios ou clínicas privadas?

Anamnese e exame clínico em clínicas ortodônticas: um estudo piloto

Recentemente um trabalho publicado no AJODO trouxe um tema que me fez refletir sobre alguns aspectos importantes para a prática clínica. O estudo piloto de Meriç P. e Kilinç DD. intitulado “Anamnese e exame clínico em clínicas ortodônticas: um estudo piloto” comparou as questões levantadas na anamnese e exame clínico de Universidades e clínicas privadas concluindo que não há um consenso entre as fichas de anamnese e exame clínico utilizadas entre os ortodontistas. Além disso, o estudo mostrou diferença significativa entre a quantidade de questões levantadas na anamnese por Universidades e clínicas privadas.

Apesar de ser um estudo piloto, acredito que um estudo com maior número amostral não irá trazer resultados diferentes. E o que podemos refletir em relação a este ponto?

Isso nos leva a pensar que apesar de não haver um consenso entre a conduta terapêutica utilizada no planejamento ortodôntico ou ortopédico de pacientes em crescimento, também parece não haver um consenso no diagnóstico da maloclusão em si….e como assim? Teoricamente as questões levantadas na anamnese ou exame clínico devem nos levar ao diagnóstico e planejamento do caso, ou seja, os profissionais devem “enxergar” o problema da mesma forma, devem “enxergar” o mesmo problema, diagnosticar o mesmo problema. Claro que alguns pontos podem ser considerados borderline e nos levam a dúvidas no diagnóstico. Porém, mesmo estes pontos devem ser avaliados e ponderados por todos os profissionais, independente da conduta terapêutica utilizada pelo profissional. O estudo publicado no AJODO observou que questões sobre ronco na infância são questionadas em menos de 5% das clínicas privadas. Claro que isso vai depender muito da região realizada o estudo e muitos outros fatores, mas quero deixar aqui uma reflexão. Diante da importância dos problemas respiratórios para pacientes em crescimento e seu impacto na qualidade de vida de crianças e adolescentes, será que não estamos negligenciando este fator em nossa anamnese? Será que estamos intervindo nos casos onde é necessário e encaminhando devidamente esses pacientes para outros profissionais?

Outro ponto que chamou atenção é que poucos clínicos questionam sobre hiperatividade e enurese noturna. Fatores com relação direta a problemas respiratórios. Claro que algumas questões podem causar constrangimento para pais ou crianças mas hoje em dia grande parte das questões levantadas na anamnese podem ser respondidas previamente por meio de formulários eletrônicos sem a presença das crianças/adolescentes. O fato é que devemos nos questionar se realmente estamos fazendo as perguntas necessárias para o diagnóstico dos problemas respiratórios.

A importância da queixa principal como orientação no planejamento em ortodontia interceptora.

Outro dado relevante do trabalho de Meriç P. e Kilinç DD. é que  somente 62% das Universidades avaliadas questionam sobre a queixa principal, enquanto que 86% das clínicas privadas questionam este aspecto. Diante desse dado, vamos fazer uma reflexão. Será que como alunos aprendemos a levar a queixa principal como fator relevante no planejamento? Ou estamos mais preocupados com a realização do procedimento em si do que com o fato que levou o paciente a buscar o atendimento. Isto é para refletir e pensar. Como professores, será que estamos enfatizando isso aos nossos alunos? Ou estamos tão focados no diagnóstico e planejamento que estamos “negligenciando” aspectos importantes para o tratamento ortodôntico interceptivo.

Anamnese e exameclinico em Ortodontia interceptiva

Talvez o clínico termine sua formação mais focado no procedimento e depois entenda na prática a importância de priorizar a queixa principal no planejamento.

Qual o impacto da anamnese para prática clínica em ortodontia interceptora?

Ao falar em diagnóstico e planejamento é importante entender que a visão do paciente como um todo será fundamental para obtenção de êxito na execução do plano de tratamento. É comum o profissional voltar seu olhar clínico somente para aquilo que ele sabe fazer, ou ao que compete a sua Especialidade. Porém, estabelecer um bom plano de tratamento vai muito além disso. Além da avaliação extra e intraoral, é preciso avaliar os aspectos de saúde em geral do paciente e sua relação com o meio cultural no qual ele vive.

Além do que, ao realizar o Planejamento ortodôntico no paciente infantil, é preciso entender se esse paciente irá sofrer alterações comportamentais ao longo dos anos, tanto no seu padrão de dieta e higiene, quanto na sua relação com o meio e o profissional deve ter condições de entender se o tratamento proposto vai ao encontro das necessidades daquele indivíduo e se o mesmo tem maturidade suficiente para colaborar com o plano de tratamento proposto.

Portanto, devemos nos preocupar em questionar na anamnese os aspectos referentes a desordens de origem genética como agenesias, transposições, malformações dentárias, maloclusões esqueléticas já que quando falamos de ortodontia interceptora e pacientes em crescimento é preciso ficar atento aos primeiros sinais clínicos/radiográfico de qualquer alteração e assim realizar a intervenção adequadamente.

Além desses aspectos, claro que também devemos questionar em relação à saúde geral, histórico de doença e aspectos relacionados à dieta e alimentação, visto que a instalação de um dispositivo ortodôntico por si só predispõe a maior retenção de placa e este fator deve ser ponderado no planejamento.

De maneira geral, minha ficha de anamnese é subdividida nos seguintes aspectos:

  • Queixa principal
  • Histórico de saúde geral
  • Histórico familiar
  • Histórico de saúde odontológico
  • Avaliação respiratória
  • Hábitos bucais deletérios

Depois de questionar os pais/responsáveis sobre esses aspectos, passo para o exame clínico avaliando, além dos fatores oclusais, fatores relacionados a fala, respiração, deglutição, ATM e competência labial. E somente após solicitar os exames complementares e avaliar todas as características relevantes é que posso concluir o diagnóstico e definir a conduta terapêutica adequada para aquele paciente.

Diante de tudo que conversamos, gostaria de te convidar a fazer uma reflexão sobre sua anamnese. Realmente você está questionando os aspectos relevantes? Temos que nos perguntar se temos conhecimento suficiente para entender o desfecho de cada pergunta que fazemos aos pais? Ou não, não sabemos a relação entre a hiperatividade e problemas do sono, ou não entendemos a relação entre o tipo de dieta e a instalação de qualquer dispositivo ortodôntico ou mesmo não sabemos entender o que é um padrão de deglutição normal para cada idade ou mesmo um padrão de alteração de fala compatível ou não com aquela criança. Fica aqui a reflexão!

Você sabe qual a conduta clínica diante da anquilose de molares decíduos?


Juliana Pereira Andriani

Especialista em Ortodontia e Ortopedia dos Maxilares – UFSC
Mestre em Ortodontia – UFSC
Doutoranda em Odontologia – UFSC
Ortodontista clínica – Integre Odontologia – Florianopólis
Profa. Ortodontia e Ortopedia – ABCD/Florianopólis
Profa. Ortodontia e Ortopedia Academia da Odontologia
Founder Academia da Odontologia
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